quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ESTIMO MELHORAS A QUEM DESEJO MORTO

De vez em quando é bom visitar o inimigo. Principalmente quando ele está internado num hospital. Melhor ainda se estiver numa Unidade de Terapia Intensiva e em estado de coma não induzido. Um prazer que precisa ser exteriorizado. Visitar no horário onde o maior número possível de familiares esteja presente. Principalmente os que sabem do ódio que os une. Os que sabem da sua alegria contida nesse gesto de solidariedade que eles sabem falso. Manifestar o seu desejo de entrar na UTI e, certo dessa recusa por parte dos familiares, subornar o enfermeiro chefe com qualquer coisa que o seduza, dinheiro por exemplo. E, feliz glorioso sorridente, adentrar na UTI com uma tesoura no bolso. Uma tesoura longa e bem amolada. Certificar-se de que alguns daqueles parentes próximos estejam do outro lado do vidro e assista você tocar na mão do inimigo tocar nos tubos. Tocar no futuro e imaginar um daqueles parentes próximos relatando ao inimigo aquela maravilhosa visita o seu toque na mão e nos tubos. O gesto da sua mão que entra no bolso e lentamente retira a tesoura e a angústia daqueles parentes que ao virem gritam no meio da sala de espera como tantos outros gritam diante da notícia da morte. Enquanto você utiliza a tesoura para aparar as unhas do inimigo. Até a chegada do enfermeiro corrupto e a repreensão pela utilização de equipamento não autorizado. Você explica dos arranhões que sofreu no último embate, mas o enfermeiro não quer escutar. Aceita a reclamação e retira-se sendo agredido por aqueles parentes que se dizem próximos. E você, mesmo com o lábio cortado, o hematoma no olho, perdoa a todos porque aqueles não são seus inimigos, mas não perdoa o inimigo que se entregou a uma doença não provocada por você. E, sinceramente, estima que ele melhore o mais rápido possível, para que o seu ódio se prolongue por mais algum tempo e sua vida volte a ter sentido quando o inimigo cair por golpes desferidos diretamente por você.

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