quinta-feira, 5 de agosto de 2010
PLANO DE VÔO
Brito sentou-se no banco da praça. Recostou-se enquanto suspirava. Lembrou do automóvel no leasing, do apartamento financiado. Das roupas e sapatos no crediário. Do pedido de divórcio da sua esposa. Do relatório a ser entregue às nove horas e o seu relógio digital, comprado em doze vezes iguais sem juros, marcava oito horas e quarenta e três minutos. Brito constatou que nada era dele. Nem o tempo. Subiu lentamente no encosto do banco e começou a bater os braços, primeiro devagar depois foi aumentando a velocidade e os braços tornaram-se asas. Brito começou a voar, sobrevoou a praça, passou os fios, alcançou as nuvens e planou sobre o mundo que se distanciava lá embaixo. Brito não sabia que sabia voar. Descobriu um momento que era dele. Continuou voando até lembrar que em algum momento precisaria pousar.
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