quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Entulhos



Terminada a construção do universo, Lúcifer, engenheiro responsável pelo cálculo estrutural, constatou uma grande quantidade de sobras de material e resolveu questionar o mestre de obras a respeito do assunto.
- mestre, todo esse material que sobrou, o que vamos fazer com ele?
- o resto é literatura, meu filho, o resto é literatura.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

chuva de cabelos

O desagradável tufo de cabelos que saía do seu nariz invadiu a sesta e com ele veio um mundo de reclamações as contas as cotas a serem atingidas os desagradáveis clientes e os atrasos nas faturas
Estávamos voltando do almoço e a comida que até aquele momento repousara tranquila no estômago também sofreu o impacto da cena desagradável
Geralmente o surto ocorria pela manhã durante o nosso cafezinho dessa vez ocorreu após o almoço para nossa surpresa e talvez dele mesmo
A tarde começara nublada e com a cena a chuva desabou sem a nossa presença estávamos abrigados dentro daquela caixa cercados de psicopatas e psicóticos
Ele parou ao meu lado gesticulando seu cuspe flutuava na sala misturado com palavras terríveis e outras nem tanto
Percebi naquele momento observando-o de perfil que além do tufo de cabelos nas narinas havia tufos de cabelos que saíam da orelha esquerda e estranhamente não observei o mesmo na outra orelha
Aliás a orelha direita se abriu e por ali alguns fugiram da situação eu permaneci vendo a cena lentamente se desvanecer até a enfermeira chegar com o meu medicamento
Tenho certeza de que em algum instante tudo voltará ao normal mais uma vez ela me disse que o remédio pra curar o tédio ainda não havia sido inventado

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

das contingências da continência


o soldado mutilado que volta da guerra sem braços na fila de condecorações. o general míope que ordena sua prisão por não ter dado continência.
soldado: mas isso é ridículo demais pra ser usado numa ficção.
general: mais ridícula é a guerra no entanto foi lá que você perdeu os braços.

TUBARÃO

não havia mais nada nem ninguém a ser devorado no fundo do mar. na paisagem líquida um tubarão faminto e desesperado resolve subir à terra e procurar comida.
não havia mais nada nem ninguém a ser devorado na face da terra. o tubarão faminto vê seu rosto refletido na água e mergulha na boca do seu reflexo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O dia em que lelé dacucou





Primeiro veio o tronco depois os braços as pernas o cordão ligado à placenta. Os médicos esperaram pela cabeça esperaram esperaram meteram a mão lá dentro e reviraram botaram a mãe pelo avesso e não encontraram a cabeça da menina.
Trataram de arrumar a mãe. Limpa de lá limpa de cá. Estavam assim distraídos quando a enfermeira notou que o coração da menina batia e ela também respirava. Todos se voltaram para a criança. Realmente ela estava viva mexia os braços as perninhas respirava e o coração batia. A mãe recebeu alta mas a criança ficou em observação. permaneceu viva no segundo dia no terceiro quarto semanas meses. Aos dois anos recebeu alta e foi pra casa.
Mãe: é a cara da mãe?
Pai: é a cara do pai?
Mãe e pai: esperta essa menina nasceu sem parecer com nada nem ninguém, linda por isso!
As crianças do bairro resolveram chamá-la de lelé. A mãe gostou o pai gostou e registrou. Na hora do batizado o padre quase perdeu a cabeça procurando a cabeça da menina, em compensação ela não chorou como as outras.
Teve uma infância normal como todas as outras crianças da sua idade, pulava corria e brincava de boneca com as amiguinhas.
Lelé: tão bom ter nascido numa obra de ficção, mesmo sem cabeça eu ouço eu falo eu penso, só não vejo por causa do desfecho oficial.
Nas adolescência lelé ficou com um corpo bonito torneado nos lugares certos, ouviu algo sobre pentear cabelos e mirar-se no espelho, pensou pensou imaginou mas não chegou à conclusão alguma a respeito. Perguntou à mãe mas a mãe desperguntou porque mãe.
Certo dia lelé ficou em frente ao espelho e não se viu. Passou as mãos na cabeça e não sentiu. Procurou na bolsa no bolso e nada. Sentiu um vazio sobre o pescoço. Sentiu um vazio e resolver preencher o cartão resposta do vestibular. Preencheu tudo certinho e saiu na lista. Procurou na faculdade a razão da sua acefalia. E haja braile haja braile. Livros manuais compêndios almanaques enciclopédias. Alemão inglês francês espanhol. Phd e a possibilidade e um transplante de cabeças e segundos os cálculos a única que poderia doar sem o risco da rejeição seria a sua própria mãe. Porém com um porém a mãe não poderia ceder a cabeça de livre e espontânea vontade nem negá-la nem muito menos saber da doação – um problema de ordem técnica fora da alçada literária que não cabe aqui ser exposto – da alçada literária são os possíveis desfechos.

Versão oficial: lelé conta a mãe que se tornou uma famosa ilusionista internacional, explica o truque da guilhotina e a convence a ser a cobaia do número. A mãe aceita com um sorriso nos lábios. Cabeça no lugar. Lelé retira o truque do mecanismo da guilhotina e põe uma legítima lâmina de aço inoxidável e solta a trava. Cabeça da mãe na bacia. A equipe medica camuflada na platéia sobe ao palco e começa a operação. Anestesia porcas parafusos unindo a cabeça ao corpo de lelé.
Abriu os olhos. A primeira visão do mundo: o corpo da mãe deitado no sofá e coberto por jornais. Depois a janela. As janelas estradas paises pessoas. A ultima visão do mundo.
Mãe: não fico triste porque você me degolou se você está feliz eu também fico feliz com isso.
Lelé: por favor acaba com isso de autoflagelação materna. Degolei você inutilmente e você sabe disso. Pra ser feliz não é preciso ver o mundo. Basta apenas estar no mundo e sentir o amor presente nas pessoas que nos rodeiam estou arrependida e peço licença pra chorar pelos seus olhos.
Mãe: é melhor estar no mundo vendo tudo. Você se arrepende não por ter me degolado mas pelas coisas que você viu.
Lelé dacucou. Se arrependimento matasse ela teria morrido mas preferiu enlouquecer.
“TODO CONHECIMENTO DO MUNDO AQUI APRISIONADO” era a placa no seu quarto do hospital psiquiátrico. Sua mãe veio visitá-la.
Mãe: trouxe uma chave de fenda você pode livrar-se da cabeça e da loucura nela instalada.
Lelé desparafusou a cabeça. A mãe não aceitou a cabeça de volta. Resolveram jogá-la na latrina. Saíram de mãos dadas do hospital.

Versão do pai: viver com uma mulher com cabeça já é difícil imagine sem cabeça nenhuma. Ele vê o transplante como uma causa justa mas de conseqüências inaceitáveis. Paga o dobro para a equipe médica fingir tudo. Já que lelé jamais enxergou nunca saberia que a cabeça sobre os seus ombros não é a da sua mãe. O transplante fingido é realizado. Lelé acorda e sente a cabeça sobre o ombro. Vê as imagens encomendadas pelo seu pai a uma equipe de cinegrafistas profissionais. Lelé dacucou. Preferiu ficar com os olhos fechados para sempre. Agora vê melhores paisagens quando imagina ou quando sonha.

Versão da mãe: coração de mãe não se engana. Ela descobre os planos de lelé e foge com o marido. Antes disso contratou uma dublê que a substituiu e ao ser degolada sangrou até morrer. Mesmo assim o transplante foi realizado. E veio o inevitável problema da rejeição. Lelé passou a refazer os cálculos procurando o erro e passou tanto tempo refazendo tudo que esqueceu que não tinha cabeça e vive até hoje sem maquiagem sem brincos e sem xampu.

Versão da lelé: posso não ter cabeça mas não sou idiota. Qualquer pessoa de bom senso sabe da impossibilidade de alguém nascer sem cabeça e sobreviver. Não sou lelé nem dacuquei tudo não passa de uma mera obra de ficção.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os filas da puta


três cães filas na porta do banheiro onde a puta penteia o pentelho assanhado após trinta e seis horas de coitus ininterruptus.
treinados para marcar com a morte os olhos de quem ousar tentar entrar e perturbar a paz da puta.
corredor repleto de cadáveres. presas encharcadas de sangue. nas garras fragmentos de olhos e ventres.
nisso usam o truque da cadela no cio passeando em frente ao cães mas eles foram treinados cuidadosamente e apenas masturbam-se.
a puta sai recolhe os cães e os coloca na bolsa a tiracolo.
com outras roupas outros passos e pés perde-se na multidão pessoa comum.
no elevador fecha a porta por dentro e disfarça os filas num buquê. entra no apartamento beija a mãe e a filhinha. põe o buquê num vaso. trouxe pão leite ovos queijo. o dia hoje foi bom. o que machucou ficou da porta pra fora. os orgasmos fingidos os cadáveres a saudade de casa. sim aqui é outro ar e os filas espalham na sala dióxido de carbono.
Suposições extraídas a partir de uma carta encontrada no paletó de Jose Antonio Ferreira de Lima, doutor engenheiro tragicamente morto num acidente de caça.





JOSE BOTELHO LOPES NETO, ou melhor, CORONEL BOTELHO, assim gostava de ser chamado. Um homem metido a “não me fale muito nesse assunto”, metido a “bofes recheado a ouro”, principalmente no que se referia à sua família, assunto proibido de comentários negativos, claro, havia uma verba pra o colunista social citar invencionices boas sobre a dita cuja, embora toda a cidade soubesse que a família do coronel estava recheada de tudo que o bom costume desaprova: quengas, gatunos, tarados, agiotas, advogados, trambiqueiros e etcetera. Outro dia, por exemplo, convidado que fui pra forrar as tripas na casa do coronel, surpreendi sua esposa, dona Luzimere, pinicando o olho pro meu lado, disfarcei, fiz que não era comigo, porém mais tarde ela enfiou um papel no bolso traseiro da minha calça, cujo conteúdo só tive coragem de ver em casa trancado no banheiro, estava lá no papel, hora e local. Não pensei duas vezes, fui. Fui porque não sou homem de dobrar barra de calça no meio do atoleiro. Quando cheguei puxei logo conversa mas dona Luzimere não queria conversa, partiu logo pro esfolamento das vestes e do corpo. Lu sabia todo o repertório da arte de juntar as moitas e separação de cabeleiras, tudo sobre fornicamento falado, escrito e irradiado. Comi mas não arrotei. Houve uma segunda vez e só, porque o amor é uma doença sexualmente transmissível e ela estava infectada, saía pelos poros, então veio o mais grave sintoma: a escolha entre um caso encoberto e sereno ou a revelação direta ao corno na versão dela, com a conseqüente merda dando no pescoço, juntamente com o meu sangue lavando o escândalo da família Botelho. Decidi pela terceira opção, a terceira opção seria não decidir nada, esperar o tempo cumprir as coisas cumpridas. Num tempo desse o tempo é curto, logo o coronel mandou me chamar, primeiro veio o calafrio depois passou, porque como homem que não dobra a barra da calça no meio do atoleiro, chegou a hora de lavar a barra da calça. Eu era quase vizinho do coronel mas escolhi o caminho mais longo possível, menos por medo, mais para mergulhar no mar de suposições do que Luzimere havia soprado nos aparelhos de escuta do cornudo. Com certeza ele havia aplicado um corretivo na gaieira, um chute na barriga e o aborto com a minha cara, depois o coronel azeita a doze de cano serrado guardada na gaveta da escrivaninha ou o corretivo foi forte demais e a rameira ensangüentada nos braços do coronel sussurra atrelado ao último suspiro a versão do sedutor irresistível e suspiro de morto tem fé de oficio, decreta a minha morte e revoga todas as disposições em contrário.
Cheguei. Estranhamente calmo, o coronel me esperava no alpendre, pôs a mão sobre o meu ombro, levou-me ao escritório. Eu sabia que o coronel não iria agir de uma hora para outra, antes iria argumentar a respeito de traição e adjacências, se é que podemos chamar assim o ocorrido. Sentou-se atrás da escrivaninha cuja gaveta guardava a doze de cano serrado, devidamente azeitada para o consumo humano, sentou-me na cadeira em frente e “Doutor Tonico, vamos direto ao assunto o senhor andou se enxerindo pra minha mulher?”. Chegou a hora de lavar a barra da calça. Neguei, neguei com a cara mais deslavada possível, eu conhecia bem o coronel e ele pensava que me conhecia, acima de tudo estava o meu instinto de sobrevivência e confiava tanto nele que caí na besteira de ir com o meu terno mais caro. O coronel começou a caminhar pela sala, ou melhor, a caminhar por atrás da escrivaninha onde a doze de cano serrado etc e tal. “Doutor Tonico, estou numa situação por demais delicada, meu avô foi amigo do seu avô, meu pai foi meu amigo do seu pai e nós crescemos praticamente juntos, há inclusive o absurdo de conhecer o senhor há mais tempo que a minha própria esposa, apesar do senhor ser doutor engenheiro metido em letras e números, sabe muito bem o que carrega entre as pernas, é homem de peitar touro, de unhar cobra, sei por que meus olhos foram testemunhas e justamente por causa disso sei que o senhor assume os seus fornicamentos, mesmo o referido orifício sendo propriedade particular do coronel Botelho, porém estou aqui na santa paz do meu lar quando chega a minha esposa dizendo que está de queixo caído com as coisas que o senhor andou dizendo pra ela, falando coisas que nem posso repetir aqui, porque o senhor nega e não lhe interessa ouvir essas safadezas, embora suspeito de ser autor dessa façanha de sem-vergonhice e sangue frio, então veja em que situação estou, por que Luzimere ia inventar uma história dessas? Pra encher os meus chifres de ódio e arrebentar suas fuças com uns tiros assim sem mais nem menos? Claro que fosse outro homem o suspeito já estaria devidamente furado, sangrado, enterrado e cuspido mas o suspeito é o senhor e eu me pergunto por que o senhor negaria? Conhecendo o senhor como eu conheço, chamei pra essa conversa aberta, franca, de homem pra homem, pro senhor me ajudar, diga aí seu Tonico, que diabos tá acontecendo?” Do jeito que a prosa se desenrolava fiquei animado, senti que a porta da saída estava próxima, só faltava a instalação da maçaneta, então comecei “Coronel, concordo com tudo que o senhor falou, outra saída não vejo, dona Luzimete, com o devido respeito, está entrada nos quarenta anos, nessa idade, uma doença chamada esclerose que ataca principalmente as mulheres, interfere nos ossos do raciocínio, o juízo manca e cai em situações como essa, se o senhor me permite, aconselho um médico pra dona Luzimere, eu mesmo indicaria, amigo meu da Capital.” Pronto, a maçaneta estava instalada só faltava agora abrir a porta. O coronel chamou Luzimere o grito estrondou a casa toda. Lu surgiu intacta, minhas suposições foram por água abaixo ou o coronel estava ficando velho, raciocinando mais e finalmente aquela porta iria se abrir e a barra da minha calça estaria limpa para sempre. “Luzimete, minha filha, me ajude, doutor Tonico negou tudo, me diga, o que ta acontecendo? Luzimere era boa em fazer uma coisa e em que ela era boa não iria fazer ali com o coronel nem muito menos comigo, óbvio. Mestra dos malabarismos horizontais e um desastre no discurso vertical, ouçam que maravilha “sabe zeca, outro dia eu tava lendo nesses almanaques de moça, que tem uma doença que os homens depois de uma certa idade, chamada clerose ou escleros um nomezinho assim, atua nos ossos do raciocínio, o juízo fica manco e tropeça em besteiras como as que o doutor Tonico andou dizendo pra mim, comento isso contigo porque você como amigo dele, aconselhar um doutor médico pra evitar esses mal-entendidos da vida” Não gostei, quase as mesmas palavras, via a maçaneta a porta e a saída sumindo no ar, o coronel assumiu o ar das minha suposições, parou de caminhar de um lado para o outro, estacionou bem em frente àquela gaveta onde a doze de cano serrado etc. “Bem que eu tava matutando aqui comigo, até as palavras são as mesmas, concordo com a minha cornice não tenho mais carvão pra acompanhar o fogo dessa catraia mas não me conformo que confundam isso com burrice, ainda dei chance pras quizilas falar, a raiz do chifre ainda não esmigalhou meu juízo, melhor remédio pra esclerose clerose ou escleros ou que porra for é bala!”O coronel falou isso bem rápido e enquanto falava abria aquela gaveta onde a doze de cano serrado, devidamente azeitada, carregada e engatilhada deu o ar da sua graça, a última coisa que ouvi foi o barulho do meu peito se espalhando pelo ar, o que aconteceu com Luzimere não sei não quero saber e não está mais aqui quem falou.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ROTINA DE RISCOS

a partir de uma idéia de Raimundo Carrero


Entraram no botequim para um café. Inimigos, não se falavam desde a infância. Sentavam-se ali todas as tardes e ficavam horas em silêncio. Um servia café ao outro, mesmo correndo perigo.Desconfiavam de uma dose fatal de veneno. Mas não compreendiam a vida sem esse risco. Inimigos a céu aberto, aqueles que desconhecemos os gestos mas podemos evitar, diferente dos inimigos ocultos, cujos gestos sabemos por isso mesmo evitamos. A rotina de riscos os obrigava a esperar o primeiro gole do outro ou fingir o primeiro gole. O ódio acentuava a velhice e aumentava a senilidade. Às vezes o desejo ficava remoendo a cabeça como se fosse uma atitude já tomada. Na tarde seguinte o outro não veio, nem nas outras tardes. E nos dias seguintes sob a sombra da dúvida, refez na cabeça quando pôs a mão no bolso e derramou o veneno. A intenção e o gesto o jogaram no perigoso terreno do conflito e de lá até o abismo do remorso foi questão de segundos. Não conseguia mais tomar café sem a possibilidade do risco nem entrar no botequim sem a possibilidade de encontrar o inimigo. A dúvida o definhou até a morte e com a certeza de que ao envenenar o inimigo havia envenenado a si próprio.
Entrou no botequim. Soubera do inimigo que definhara com a sua ausência e que morrera pensando no seu possível envenenamento. Nunca precisou carregar o frasco de veneno no bolso. Descobrira que provocar a incerteza no outro teria um efeito mais letal. Pediu um café.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Uma jaula visitada por vozes


bebê com largos séculos de experiência fraldinha enxutinha no berço com a barriga pra cima pensando em nada enquanto palitava as gengivas com um cotonete as frestas da porta do quarto cochichavam a conversa que flutuava na sala

... a cerveja tá na geladeira – os salgadinhos a madrinha vai trazer – não não precisa não – claro já preparamos – tudo certo – festa de batizado é isso filha – de manhã é melhor – o dia todo pra encher a cara...

esperou que todos fossem dormir levantou e vestiu uma fralda social tomou um táxi e foi para a igreja trocou o sal por arsênico a água benta por ácido voltou pra casa deitou e fez xixi na cama