Eu fiz esse buraco. Não foi difícil. Havia disposição, ferramentas novas, cimento antigo, terra fofa. Havia principalmente tempo. Ninguém pediu para que eu fizesse. Foi uma decisão minha. Ninguém estipulou prazo ou modo de fazer. Foi um trabalho tranqüilo. O ritmo foi meu. Constante. Nem houve cansaço. Houve até prazer confesso. E um buraco feito dessa maneira não obedece a um plano predeterminado. Não pensei se poderia encontrar água. Da terra ou aquelas presas em canos. Não encontrei nenhuma das duas tive sorte. O local foi bem escolhido reconheço. Minha única dificuldade foi perceber a hora de parar. Nem sei se parei porque alcancei o que gostaria ou imaginava, ou porque não alcanço mais a abertura. A terra que jogo para fora formou um pequeno monte ao redor e parte dela está voltando em pequenas nuvens que me sujam. Toda vez que cavo as paredes ao redor tremem um pouco provocando a queda de mais terra. Não estou preocupado em sair daqui. Estou preocupado em não poder cavar mais. Eu sempre quis cavar um buraco desses. Surgiu essa oportunidade e não me organizei da melhor maneira. Deveria ter instalado uma roldana para retirar os baldes de terra. Pensei que utilizando pás faria isso com tranqüilidade. Talvez eu pensasse que não chegaria tão longe. Que em determinado momento eu pararia. Por cansaço ou por descobrir a situação ridícula em que eu estava me metendo. Talvez eu quisesse ficar naquela situação mesmo e agora preciso sentar e pensar um pouco.
É estranho o céu visto do fundo de um buraco. Lembra uma luneta sem lente. Quero dizer no caso de um buraco redondo como eu fiz. Alguém disse que a melhor maneira de sair do buraco é parar de cavar. Agora estou pensando na melhor maneira de continuar cavando.
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