quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ponto de vista


Com a cabeça inclinada, a lágrima cai na lente dos óculos e embaça a paisagem composta de um par de sapatos rotos e ladrilhos irregulares que formam cigarros fumados por cães, nuvens escalando manadas, fugas sem amparo. Por um momento a disposição das coisas a sua frente o faz esquecer porque está triste. Um momento muito curto. Tudo volta e a segunda lágrima escorre pelo rosto ao encontro da boca. Retira os óculos para enxugar e descobre uma paisagem melhor com tudo fora de foco. Um mundo melhor assim inexato. Levanta-se deixa os óculos sobre o banco da praça e segue arrastando o mundo preso ao calcanhar.

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