segunda-feira, 8 de março de 2010

O COMPANHEIRO ESMAGADO PELO SENTIMENTO

Aconteceu durante o banho. Os orifícios do chuveiro se dilataram e as coisas começaram a cair juntamente com a água. Automóveis, pessoas, outros objetos, sentimentos, todos misturados caindo sobre a minha cabeça e escorrendo pelo meu corpo. O ralo permaneceu imutável. A água escorria enquanto as outras coisas iam se acumulando ao meu redor e atrapalhavam os meus movimentos. Ouvi o companheiro bater à porta e toda aquela movimentação não me permitia abri-la. Era nosso costume não travar a porta do banheiro exceto em caso de masturbação ou um choro que o outro não deveria saber. Perguntou se eu estava soluçando depois se eu estava gozando. Na verdade eu não ia chorar nem me masturbar. O travamento inconsciente estava relacionado com aquelas coisas caindo sobre mim. O barulho permitia essa dúvida. Eu não sabia o que responder. As coisas foram se acumulando tolhendo os meus movimentos até a paralisação total. Mesmo com meu corpo imóvel as coisas continuaram caindo até o soterramento completo. Tudo ficou escuro. Ouvi o vidro do boxe arrebentando e isso pouco alterou na movimentação do meu corpo. Estranhamente minha respiração não foi alterada. Algum ar entrava por algum caminho que ficou aberto. Com o preenchimento completo do espaço por tudo que havia caído, o chuveiro foi obstruído e nada mais entrava. Esperei que a janela do banheiro não agüentasse a pressão e arrebentasse. Não demorou muito a janela começou a expelir pequenos objetos que permitiu alguma movimentação do meu corpo. Consegui alcançar a porta mas os poucos objetos que saíram ainda não permitiam a abertura da porta. Gritei para o companheiro do outro lado para que arrombasse a porta com um machado ou um pé de cabra e tivesse cuidado porque coisas iriam cair em cima dele. Momentos depois vi a ponta do pé de cabra começar a forçar a porta. Logo depois a porta se abriu e fui jogado juntamente com as outras coisas corredor a fora. Com a movimentação a torneira voltou a jorrar outras coisas e fomos empurrados pela sala em direção à varanda e caímos junto com tudo do quarto andar. Num último esforço ainda consegui tocar numa das mãos do companheiro. Depois fomos separados. Ele não conseguiu sobreviver os sentimentos caíram sobre ele. Eu estou aqui no hospital repetindo essa história há meses e os médicos não acreditam. A polícia não acredita. Recorro ao leitor minha ultima esperança. Vocês acreditam?

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